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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

E talvez adeus

A chuva corria-lhe copiosa pela cara. Lavava-lhe as lágrimas solitárias que teimavam em revelar a sua alma, o seu estado. Insistia em não abrir o guarda-chuva. Insistia em não abrir o seu coração. A água que corria pelo rosto confundia-se com a que saía das janelas abertas na face.

Para quê? perguntava-se insistentemente. Para quê continuar? questionava ao caminhar para a encharcada solidão do seu ser.

Sou incapaz de amar e de ser amado. caminhavam os seus pensamentos na direcção do frio implacável da solidão do espaço que elegeu para passar as noites.

As amizades, quando não regadas, secam como o mais belo cravo vermelho, em dias de um sol implacavelmente esquecido da liberdade. seguia o cérebro, acompanhando o vai e vem do comboio, seu companheiro do esquecimento.

Só. não conseguia deixar de se sentir. Só e triste. Farto da escolhas que a vida foi fazendo por si. Cansado das opções que nunca se fizeram.

Sim, para quê? insistia. Que diferença fará a inexistência da solidão? questiona-se.

O espaço foi reduzindo. As paredes frias aproximam-se galopantes. A dura porta fecha-se como um dia se fechou o coração. Os bens duramente amealhados não falam, não partilham os seus estados. Estão. Exibem-se.

A varanda aberta para o mar, salgado quanto as suas lágrimas, é um abismo, uma vertigem. Chama por si, como um dia foi chamado pelos seus ente queridos. O vazio oferece-se como se ofereceu um dia. Já não há barreiras. Ao adeus. Aos seus a deuses. As asas que deveriam existir não se abrem. Como a mente que se fechou há muito tempo.

Adeus... Um dia voltará...

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