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segunda-feira, 26 de junho de 2006

Férias nos Açores ou The quest for the holly whale...


A missão não era a mais difícil.

Mas a natureza tem destas coisas. Nem sempre nos deixa ver aquilo que procuramos...

Aqui vai o registo diário de umas férias (de 4 a 12 de Junho) em busca do mamífero dos mares. O maior, claro está. Porque o dos saltos rápidos e acompanhante dos barcos, já vi no Sado.

Açores. Essa terra perdida no meio do Atlântico. Uma jóia da natureza, amada por todos os que a visitam. E merecidamente amada...

Dia 1 - O início das buscas

Lisboa - Faial

Quem acha que aterrar no Funchal é uma aventura, nunca o fez no Faial. Azul mar de um lado, verde pasto do outro, pista pequena, avião a travar assim que pousa os trens de aterragem... Uma emoção, sobretudo quando se percebe que o fim da pista se aproxima galopante... Achei que ia conhecer a "horta" logo ali...

Horta, Faial: Peter, Marina; Marina, Peter; Peter, Marina; Marina, Peter; Mar, verde, campo, azul, veleiros, estrangeiros, nacionais. O verdadeiro melting pot...

É giro, isto!Só não encontrei quem me explicasse o que fazia um Jaguar numa ilha que se percorre em menos de uma tarde e que, claramente, não tem estrada para o animal...

Amanhã: Baleias!

Dia 2 - Uma fantasia chamada Pico

Há uma ilha que tem um nome que só acredito pelas fotos: O Pico.
O nome está lá, o dito é que nem vê-lo...

Nuvens, nuvens, nuvens e, nos intervalos, mais nuvens... A ilha é lindíssima! As nuvens é que deixam a dúvida sobre a existência do dito Pico...

Ver Baleias. A idéia era um dos aliciantes para a minha vinda aos Açores. Munido de carro alugado, toca a correr para as Lajes do Pico, Espaço Talassa, para poder ir ver os maiores mamíferos do Mundo!

50 euros para ir ver golfinhos... Menos pago eu na viagem Tróia-Setúbal e já lá vi golfinhos: "Baleias? Não dá para ver?"
"Não foram vistas. Mas se quiser arriscar..."
"Não, muito obrigado. Vim ver Baleias. Golfinhos já vi!"
"Então adeus, seu forreta... Por isto é que gostamos dos estrangeiros... Pagam para ver o que quer que seja..."

E foi o que vi de baleias no Pico... Até o Museu estava fechado. Feriados regionais...O resto do Pico é muito bonito.

Ah! A generosidade das pessoas do Pico é o máximo! Sem mais nem quê, eis dois continentais presenteados com Pão do Espírito Santo. É o máximo!

A viagem Faial-Pico-Faial é muito divertida. Cuidado é com os enjoos...

Dia 3 - Faial, mesmo sem Baleias

Faial: A ilha é mesmo muito bonita.

E perceber o quão pequenos somos perante a força da natureza é impressionante!
Os Capelinhos, a Praia Norte e todas as manifestações desta natureza selvagem são uma lição de humildade para os humanos. Apesar da tragédia, é bom existirem sítios assim!...

Praia e Caldeira é que nem ver... Nuvens, nuvens, nuvens... Já parecia o Pico...

Destaques: - Porto Pim
- Capelinhos
-Vertente norte do Faial
- Praia do Norte - Capelo;
- Restaurante Capitólio
- O Barão
- Taberna do Pim
- Café Internacional (espaço giro, pouca gente, bebidas "telefónicas" muito boas...)
- Peter Café Sport (pura e simplesmente incontornável...)

Grande destaque: As Pessoas! São gente à parte. Generosas e acolhedoras. Só pelas pessoas os Açores merecem uma visita!

Dia 4 - A busca muda de base: S. Miguel

Viagem Faial - S. Miguel.

Conselho: Esqueçam aquela história de fazer o check-in duas horas antes. No Faial 45m chegam...
É que acordar de madrugada para ir directamente para o aeroporto...
Francamente... Nunca me senti tão estúpido... Isto de ser de Lisboa tem consequências parvas... Mas deu para beber uma "Laranjada" (Marca Registada, pelo menos nos Açores): A bebida mais artificial que bebi nos últimos tempos - é o máximo!

Quanto à viagem, foi giro voar num avião que tinha as ventoinhas no lado de fora...
A descolagem teve uma grande vantagem: Deu para perceber que o Pico existe! Acima das nuvens dava para ver a montanha mais alta de Portugal!

A viagem foi gira, com direito a uma turma de putos, com a barulheira inerente...

Ponta Delgada: Finalmente S. Miguel! Hotel Avenida: As saudades que tenho dos Hotel Canal...

Ponta Delgada é aquele misto de vila de provincia com capital de região... É estranho...

Restaurante S. Pedro em Ponta Delgada: Uma descoberta que vale a pena.

Ah! Marcada viagem para ver Baleias. Será que é desta?...

Dia 5 - The quest

Acordar de madrugada, com a excitação de ir ver Baleias!...
Não. Não foi desta... O mar estava agitado e para além de uma acentuada dor nas costas, só uns golfinhos... E o Sado tão perto de Lisboa...

E a mesma história do Pico e Faial: "Ainda ontem vimos três cachalotes"... Porquê sempre três?... Não podia ser outro número? Parece a história do "três, foi a conta que Deus fez"... E foi sempre ontem. Porque não hoje?...

Depois deste desaire, urge alugar um carro para sair de Ponta Delgada e começar a conhecer S. Miguel.
“Este é mais caro, aquele é pior”… Decisões, decisões, decisões… É só um carro… Escolhido, aqui vamos nós!

Costa sul/leste: A ilha é uma imensa Arrábida. Mar e verde por todo o lado.

Viragem para as Furnas. Para além do vulcão dos Capelinhos, aqui estão os Açores do meu imaginário. As caldeiras, tirando o cheiro infernal, são do mais espectacular que já vi.

Parque Botânico das Furnas: Banho de água quente, com um jardim paradisíaco como cenário. Podia passar aqui uma semana que recuperava a sanidade há muito perdida…

Festival de Sabores das Furnas: Introdução a sabores diferentes, com preços acessíveis e com direito a variedades. Uma experiência única!

Saldo do dia: Um dia semi-cheio. Só faltou a Baleiazinha… Até aquela que ontem deu à costa na Ribeira Quente, já morta, foi-se embora quando soube da minha vinda… Acho que vou reescrever o Moby Dick…

Dia 6 – Uma folga nas baleias

Destino: Vertente norte de S. Miguel. Saída para a Ribeira Grande, não sem antes uma passagem pelos Futuristas, para briefing sobre as “minhas” Baleias…

A caminho da Ribeira Grande, desvio para Rabo de Peixe. Conhecer pessoalmente aquela que é apontada como uma das terras mais pobres de Portugal. A chegada, vindo do sul é surpreendente: As enormes vivendas faziam pensar que tudo tinha mudado.
Pura ilusão… As pessoas do lugar não deixam margens para dúvidas. É uma experiência da vida perceber a dignidade na extrema pobreza e degradação.

Saída para Santana para almoço num restaurante que, afinal, está fechado. Alternativa: Ala Bote, na Ribeira Grande. Um dos piores arrozes de marisco que já transpuseram estes lábios… Porque é que não dei ouvidos aos conselhos e não escolhi Cataplana (ou seria Caldeirada?...) de cherne?...

Após a desilusão gastronómica, ala que o bote ficou para trás e ainda há muito para ver.

Caldeiras de Ribeira Grande: Se a natureza houvesse produtos made inChina, estas caldeiras seriam esses produtos quando comparados com as das Furnas… Mas quem mostra o que tem a mais não é obrigado…

Placas a indicar a Lagoa do Fogo. Desafio: Perceber para onde fugiram as próximas placas…
Insistência, porque a visita valeria a pena, com nova abordagem. Desta feita pelo sul. Apesar das nuvens (esse eterno “obstáculo”) lá estava ela. Não na sua plenitude mas a sua beleza não deixava margens para pensamentos negativos.

Descida para a Caldeira Velha, com direito a banho e tudo. É gira, apesar das folhas e ramos no fundo darem uma sensação de que algo mais vivo poderia andar por ali também… Pés mais sensíveis não gostaram dessa sensação.

Rumo ao nordeste que é apresentado como um dos “segredos” de S. Miguel. Curva, contracurva, mais curva e outra contracurva (ou seria ao contrário?) até aos Moinhos da Achada. Espaço lindíssimo, muito bem recuperado e que merece uma visita mais alongada.

A caminho, com episódio “salão de chá”: Momento único, com vacas nomeio da estrada à mistura, ultrapassagens perigosas ao gado vacum e tudo.

Chegada ao Nordeste já noite cerrada. Lisboeta tem a mania de se esquecer que jantar a partir das 21h não é um hábito inteiramente nacional… Sem tempo para ver o que quer que seja (mas mesmo assim deu para perceber que o local merece também uma visita demorada), toca a fugir para outro lado a ver se dá para matar a fome…

E eis que aparece Povoação.
Povoação acolhedora, esta Povoação! Sem fofas mas com todos os ingredientes, são 22h30m e cá estamos nós a comer uma bela pizza que, àquela hora, foi um verdadeiro manjar dos deuses.

Caminho para Ponta Delgada, com direito a mais uma paragem no Festival Gastronómico das Furnas porque as Papas Grossas tinham ficado na memória palativa.

Ponta Delgada nunca me pareceu tão acolhedora e amanhã esperar o telefonema para saber se se pode ir ver Baleias…

Dia 7 – O encanto das Cidades

Não. Ninguém ligou… Não será desta que as Baleias serão vistas. Começo a pensar que será um animal imaginário…

Então vamos conhecer as lagoas. As do outro lado.

“Breathless”. O termo inglês é o melhor para descrever a sensação de ver estas autênticas obras primas da natureza…
Todas, sem excepção, merecem uma visita.

Almoço nas Sete Cidades que, afinal, é só uma e nem sequer cidade aparente ser… Mas que o nome tem um certo encanto, lá isso tem…

Visita ao Vale do Silêncio. Local mágico e espectacular! Pena ser Domingo e os locais irem para lá com as pick-ups a debitarem decibéis suficientes para arruinarem a paz e silêncio ali vividos. Mas a terra é de quem a goza…

300 mil fotos depois, tiradas de todas as vistas descobertas, rumo à costa oeste. Praia da Ferraria. O fenómeno mais incrível que vivi até hoje! Tomar banho de mar ultra-quente em condições únicas é uma experiência que só acredito poder repetir ali, naquele lugar!
Até me queimei no mar. E isto não tem qualquer sentido figurado!
A piscina natural tem o mar a alimentá-la e uma caldeira vulcânica a aquecê-la. Um verdadeiro espectáculo. Imperdível!
Mónica, para além de tudo o resto, Vale do Silêncio e esta Praia só foram possíveis graças a ti. Muito obrigado pelos conselhos!

Mais uma passagem pelas Sete Cidades e rumo a Ponta Delgada para poder buzinar pela vitória de Portugal, graças a um golo do “filho cá da terra”.

Jantar sem grande memória e copos no bar do hotel, esses sim, de muito boa memória. Entretanto a dúvida mantinha-se: Será que amanhã telefonam?...

Dia 8 – O regresso, infelizmente…

Acordar, tomar o pequeno almoço, voltar para o quarto e dormir outra vez… O sono também aperta e, antes que digam mal, deixem dizer que o pequeno almoço no quarto tem menos hipóteses de escolha…

Última saída para ver e, sobretudo sentir, S. Miguel.

Primeira paragem: Plantação de ananases Arruda. Plantinha, ananás miniatura, ananás maior e, finalmente, pronto para a colheita. Bolas que entre a primeira fase a última a coisa demora 18 meses… Duas gestações humanas… É obra!

Novo destino: Lagoa. Lapas, cavacos e cherne grelhado, tudo regado por uma “Especial”. Especial foi este almoço que ficará na memória durante muito tempo, independente da “tia” ter tentado estragá-lo com a sua conversa ininterrupta em altos berros…

Fuga rápida à Lagoa do Fogo que as nuvens deram algum descanso.
E agora sim, em todo o seu esplendor, é um cenário único.

Um chá das 15h (também tem um 5) para conhecer uma das plantações únicas da Europa. É bom, é nosso e merece a pena!

Regresso a Ponta Delgada, com mini visita pela cidade. Infelizmente a primeiras impressões persistem…

Depois de mais uma “Laranjada”, essa bebida deliciosamente artificial, toca a ir buscar as malas ao hotel e ala para o aeroporto que há um carro para entregar.

Mais uma vez, burrice de Lisboeta! Chegar ao aeroporto muito cedo não é só desnecessário, como é pura estupidez… Razão tinha a cara metade…
Nada para fazer e o voo, como seria de esperar, está vazio…

Viagem engraçada, com direito a comissário de bordo VIP e tudo! Os fotógrafos da Grazie é que não estavam lá para registar o momento…

Chegada a Lisboa… E a promessa de um regresso. Para cumprir…

Ah… Não ligaram dos futuristas… Baleias são um animal imaginário. Mito marítimo. Pelo menos aqui foram…